Após 17 horas de terror chega ao fim rebelião

14-09-2010 23:52

 

 

Presos feridos, transferidos e reivindicações atendidas ao final da rebelião no presídio

 
Hudson Lima
Carlos Alexandre
Aroldo Bruce
 
Quatro celas destruídas, três detentos feridos, mais de 20 presos transferidos, promessa de reparos no presídio e a construção de uma nova fossa. Esse foi o resultado do motim, iniciado às 20h de segunda-feira e encerrado às 13h desta terça, na cidade de Parintins.
Super lotação, alimentação precária, falta de água e fossas entupidas motivaram a maior rebelião de presos na cidade. Mais de 30 detentos cerraram as quadres das celas, quebraram as paredes, fizeram três reféns: Erivan Souza Marques, Pedro Vasconcelos Dinelly e Gilmar Gonçalves Menezes.
As mais de 15 horas do motim foram marcadas por tensão entre presos, apreensão dos policiais militares da guarnição e carcereiros no interior da penitenciária e desesperos dos parentes dos detentos do lado de fora da confusão.
 
         
         Ao fim da rebelião a promotora Cristiane Corrêa e a Juiza Melissa Sanches
        conversaram com alguns dos detenros que participaram do motim,
 
Os amotinados exigiram a presença do Ministério Público, Poder Judiciário, Imprensa e representantes da Secretaria de Segurança do Estado, mas a imprensa foi impedida de chegar até o local da negociação.
Durante toda a noite e madrugada os reféns Pedro e Erivan foram espancados e pendurados pelo pescoço nas quadres, através das “Teresas”, cordas feita através da amarração de lençóis. Um deles Gilmar Gonçalves Menezes, acusado de estupro, sofreu várias perfurações.
          
          Desde o inicio da rebelião curiosos e parentes de detentos se concetraram
          nas proximidades da unidade prisional.
 
Na presença da imprensa os detentos afirmaram que “são obrigados a limpar a fossa que entope a cada três dias com latas de conserva e sem nenhuma proteção. Também comem resto de pele e uma sopa que mais parece uma lavagem”
A unidade prisional instalada no centro da cidade abrigava a antiga delegacia com capacidade para 38 presos. Hoje 131 detentos estão amontoados no espaço. A penitenciária está localizada entre quatro escolas (duas do estado, uma do município e uma de educação a pessoas portadoras de necessitas especiais). Devido ao motim, as aulas foram suspensas.
As 11h vieram de Manaus mais de 15 homens do Batalhão de Choque, Raio, ROCAM e COE, sob supervisão do major Amadeu Soares, que conseguiu negociar a soltura de dois reféns, Pedro e Erivam, ao meio dia.
“Apanhei a noite toda. Pensei que fosse morrer. Eles estavam com ferro apontado. Só paramos de apanhar quando chegaram os homens da polícia de Manaus”, contou Pedro, no leito do Hospital Padre Colombo.
As 12h30min, Gilmar Gonçalves, que com hematomas e perfurações pelo corpo, também foi liberado e encaminhado ao HPC. “Eles se renderam e o presídio está entregue à polícia militar de Parintins. Nosso trabalho encerrou aqui”, anunciou às 13h o Major Amadeu Soares, negociador do ROCAM.
O coordenador do Sistema Prisional do Estado do Amazonas, Germano Nelson Albuquerque, que também veio a Parintins, garantiu que o governo vai liberar os reparos do presídio e a construção de uma nova fossa a partir da próxima semana.
 
 
               
               Germano Nelson anuncia melhrias para a unidade prisional.
 
Mais de 20 transferidos
 
A promotora Cristiane Corrêa acompanhou todo o motim, encerrado às 13h, anunciou que mais de 20 detentos serão transferidos da unidade prisional. “Vamos enviar 10 para a delegacia de Parintins. Já solicitamos duas celas do delegado Ivo Cunha. O resto vai para Manaus ou Itacoatiara”, disse Cristiane. As 17h dez presos foram encaminhados ao presídio de Itacoatiara e ainda nesta semana outros devem seguir o mesmo caminho.
 
         
         A promotora Cristiane Corrêa lembra que perdeu as contas de quantas vezes
         enviou relatórios ao Sejus comunicando a situação do presidio local.
 
Indagada sobre as reivindicações dos detentos a promotora Cristiane afirmou “que as questões resolvidas não foram conseguidas em função da situação de rebelião de hoje. Já havia um diálogo entre o Ministério Público e a SEJUS para regularização da alimentação e da fossa. Apenas houve essa infeliz coincidência! Houve gasto que dependiam de notas de empenho. Esse empenho saiu ontem pra você ver que não tinha nada arranjado. Porque depende de burocracia”, diz.
A afirmação da agente ministerial, no entanto, foi recebida com desdém pelos familiares dos detentos. “Por que não avisaram sobre isso ontem à noite ou hoje de manhã, ainda não sabemos para onde serão levamos nossos familiares”, questionou o irmão de um condenado, que estava até as 18h na frente do presídio aguardando informações. 
O bispo Dom Giuliano Frigenni espera que no mais curto espaço possível de tempo, seja resolvido à questão da penitenciária de Parintins. O bispo lembrou que a comunidade carcerária cresceu na cidade e cada vez mais pessoas devem pagar pelos crimes, mas todos merecem dignidade e respeito. “É a maneira deles de reivindicar seus direitos”, comentou.